Vini em Split, Croácia, durante o período como nômade digital
Experiência

Como é Trabalhar e Viajar ao Mesmo Tempo (De Verdade)

Um ano como nômade digital: o que funcionou, o que não funcionou, e o que ninguém te conta sobre trabalhar enquanto viaja.

Não tem nada que se compare ao foco silencioso de duas horas perseguindo um bug numa pousada no meio das montanhas.

Em 2022, eu e a Cami deixamos nossa cidade no Brasil para passar um ano nos movendo pela Europa e América do Norte como nômades digitais.

No começo, eu tinha medo do que a viagem constante faria com meu trabalho. Eu estava abrindo mão do meu segundo monitor, da minha cadeira ergonômica e, às vezes, até de uma mesa adequada. A cada 30 dias estaríamos numa cidade nova, o que significava abandonar qualquer rotina logo quando ela começava a fazer sentido.

O que aconteceu?

Um ano depois, fiquei surpreso com o quanto o trabalho se manteve, e em alguns aspectos, até melhorou. O mesmo emprego continuou funcionando, e em paralelo construí um projeto paralelo pequeno que eventualmente encontrou seu próprio caminho no mercado.

Então, como funcionou na prática?

A verdade sobre incentivos

Olhando para trás, o maior motor foi incentivos.

E incentivos não são só para nômades digitais ou gente "aventureira". De um jeito ou de outro, todos nós seguimos pela vida guiados pelo que valorizamos. As pessoas trabalham por dinheiro, não só para sobreviver, mas para acessar experiências e coisas que consideram valiosas.

Viajar é profundamente motivador pra mim. Experimentar novas culturas, conhecer pessoas com ideias parecidas, ter tempo mais intencional com minha família, e contemplar a criação através das praias em Chipre e montanhas nevadas no Canadá.

Enquanto viajava como nômade, essas coisas não eram recompensas raras que eu conseguia experimentar uma ou duas vezes por ano – elas estavam integradas na vida diária. Mesmo sem os confortos da minha antiga configuração (internet confiável, rotina estável), o incentivo contínuo da viagem me ajudou a continuar engajado no meu trabalho.

Pra ser realista: mesmo que dinheiro não seja o único motor da minha motivação, ele tem um papel grande. Se trabalhar melhor significava que eu podia viajar mais, era exatamente isso que eu fazia.

E os horários de trabalho?

Eu não sou freelancer. Na verdade, passei um ano viajando enquanto trabalhava em tempo integral para a mesma empresa, e construindo uma startup pequena paralelamente.

Naquele ano, tive a sorte de trabalhar com uma equipe que realmente entendia trabalho remoto. A empresa era totalmente assíncrona. Sem daily stand-ups. Sem pressão pra responder na hora. Mas com objetivos claros, ciclos de trabalho definidos, e muita confiança.

Mas e se minha empresa não é assim?

Não é impossível encontrar empresas assim. Mas mesmo que você não trabalhe numa empresa com esse tipo de cultura, seus planos de nomadismo digital não estão condenados.

Só significa que você vai precisar ser mais intencional. Talvez seja sobre:

  • Estabelecer limites mais claros
  • Mudar de cidade com menos frequência
  • Comunicar melhor
  • Encontrar foco em lugares incomuns

Afinal, produtividade não é sobre trabalhar muitas horas, mas sobre fazer as horas contarem.

Claro, houve momentos em que trabalhei até tarde ou passei o fim de semana trabalhando, mas não era a norma. O nomadismo me ensinou a medir progresso por resultados, não por horas registradas.

Alguns dos meus dias mais produtivos começaram tarde, terminaram cedo, e ainda assim moveram a agulha pra frente.

O que ninguém te conta

Trabalhar e viajar ao mesmo tempo não é glamour constante. Tem dias que a internet cai no meio de uma call importante. Tem dias que você está exausto de tanto mudar de lugar e só queria ter uma rotina de novo.

Mas também tem dias que você termina o trabalho e em 15 minutos está andando por becos históricos em Split, ou vendo o pôr do sol sobre o Adriático.

A pergunta não é "consigo trabalhar viajando?", mas sim: "vale a pena pra mim?"

Pra mim, valeu. E muito.


Quer saber mais sobre como vivemos como nômades digitais? Confira nossos guias de cidades e descubra onde trabalhamos melhor (e pior).

Vini e Cami - Criadores do Chega de Roteiro

👋 Oi, somos Vini e Cami!

Um programador e uma editora de vídeo que trocaram a rotina normal por uma temporada viajando o mundo enquanto trabalhavam remotamente. Passamos por mais de 90 cidades e 30 países.

Compartilhamos o aprendizado que o nomadismo digital é possível, que pra viajar não precisa largar tudo pra trás, que viagens mais longas (slow travel) é o nosso estilo de viajar preferido.